segunda-feira, janeiro 21, 2008

Mocidade, mocidade



O mais recente vencedor – neste caso, vencedora – do Prémio Pessoa, estará connosco hoje. É a historiadora Irene Pimentel, que tem publicado vários livros sobre a nossa história mais ou menos recente, o último dos quais Mocidade Portuguesa Feminina, editado pela Esfera dos Livros. Vamos recuar no tempo:

«Em 1937, a Mocidade Portuguesa Feminina (MPF) nascia com o objectivo de criar a nova mulher portuguesa: boa esposa, boa mãe, boa doméstica, boa cristã, boa cidadã sempre pronta a contribuir para o Bem comum, mas sempre longe da intervenção política deixada aos homens. A historiadora Irene Flunser Pimentel traça-nos a história deste movimento, obrigatório para mulheres dos sete aos catorze anos, através do Boletim do MPF e mais tarde da revista Menina e Moça, veículos de transmissão dos valores e comportamentos ditados pelo regime salazarista. Ao folhearmos estas páginas, deparamo-nos com raparigas fardadas de bandeira em punho, lições de lavores e trabalhos manuais ou outros afazeres da vida doméstica, indicações sobre o fato de banho oficial com decote pouco generoso e saia não muito curta, lemos textos sobre a atitude a ter em casa com o marido, conselhos sobre livros fundamentais e outros proibidos aos olhos destas jovens e aprendemos as virtudes dos grandes heróis nacionais como D. Filipa de Lencastre ou o Santo Condestável.»

Antes de mais, será interessante saber o que atraiu a historiadora Irene Pimentel a estudar e a escrever sobre o Estado Novo (tem vários livros relativos a ele): serão esses períodos de privação de liberdade particularmente ricos em episódios e particularmente relevantes na compreensão da história de um país – mais que os períodos democráticos? E, voltando à Mocidade Portuguesa Feminina: basta ler a sinopse para ficarmos com um sorriso divertido nos lábios, julgar aquele tempo como anedótico e irreal, que hoje em dia seria impossível de instaurar... no entanto, não foi há tanto tempo assim, os nossos pais viveram parte da vida nele, os nossos avós a vida quase toda: viveremos ainda com resquícios dessas regras de comportamento e temendo a reprovação dos outros?; até que ponto a nossa sociedade actual é influenciada por esse passado?; e será assim tão impossível voltarmos a ser pressionados – e pressionantes – para modelos de comportamento ideias similares àqueles expostos na sinopse do livro?; a mulher ideal continua a ser, para muita gente, uma excelente dona de casa?; fumar, além de fazer mal, é feio?; não frequentar um ginásio e comer batatas fritas tornar-se-á, a breve trecho, para lá de pouco saudável, claro, também um comportamento social reprovável – e o prevaricador olhado de lado pelos seus conterrâneos?; e passaremos a ser saudáveis não por uma questão de saúde, mas de necessidade social?

Perguntas e comentários, episódios que viveram ou vos contaram desses tempos da mocidade (mocidade, porque fugiste de mim) via 800 25 33 33 e caixa de mensagens do blogue. A partir das 19, com o moço Fernando Alvim e a moça Cátia Simão.

19 comentários:

Anónimo disse...

Há um episódio engraçado, que ouvi algures, e que se passou, creio, no início dos anos setenta, a propósito de um concerto com o Vinícios de Moraes em Coimbra. A plateia, como devem calcular, era maioritariamente composta de estudantes anti-regime. Vinicios, emocionado com os aplausos, no fim, veio ao palco agradecer o carinho da «mocidade portuguesa» e, sem saber porquê, nesse preciso momento passou a ser assobiado. Só depois lhe explicaram que a palavra «mocidade», por estes lados, tinha um significado político.

Augusto

Anónimo disse...

Vinicios de Moraes é Deus.

Anónimo disse...

Para muita gente este assunto ainda é tabu!

Anónimo disse...

o salazar e que sabia disto de ceteza que a casa dele tinha uma cozinha grande porque è sitio adequado da mulher que quer espaço
viva ao salazar

Anónimo disse...

Oi Alvim,

Eu na altura do Estado Novo, ainda me encontrava num local extremamente povoado, mas simultaneamente quentinho e acolhedor. Nasci em 1976, por isso, não assisti a nada...mas a verdade é que actualmente, alguns comportamentos do Governo fazem lembrar essa altura.

No entanto, há uma coisa que me seria difícil de resistir:

Escolas separadas para rapazes e raparigas?

E a quem é que eu escrevia as cartinhas a convidar para um Cola Cao em minha casa?

E como é que eu poderia tirar proveito do contacto físico com as raparigas nos atropelos na entrada do autocarro da escola?

Básicamente, gostaria de colocar 2 questões que considero de elevada pertinência:

- Na altura do Estado Novo, os rapazes apenas teriam acesso aos chamados "seios", depois de casados?

- Era legal jogao ao quarto escuro ou ao bate-pé?

Julgo que muitos dos ouvintes ficarão contentes por eu ter a coragem e frontalidade de colocar estas questões que todos gostariam de ver respondidas...


ABRAÇO DO LAPAROTE

Anónimo disse...

Olá olá!

Nasci em 1976 pelo que a Mocidade Portuguesa, para mim, não passa de um conjunto de histórias e memórias de almoços e jantares de familia. Pelo que ouço, pelas vivências marcantes que essa época deixou em quem me rodeia, acredito que a minha geração, nomeadamente as mulheres, ainda se ressente do que foi ensinado com uma agravante: para além da mulher boa cozinheira, costureira, doméstica, dona-de-casa e mãe, o ritmo de vida actual exige que sejamos também profissionais competentes.

Creio que muitas das limitações e falta de abertura de espírito do povo português se deve precisamente ao facto de andarem, durante tantos anos, a ouvir o que se pregava na Mocidade...

Demos tempo ao tempo, passou pouco tempo desde que temos liberdade para sequer escrever o que acabei de escrever...

Anónimo disse...

Bolas, isto faz-me uma confusão tremenda, os jovens daquela altura não podiam mesmo ......?
Não havia maneira de fujir as leis? Ou melhor, quem é que controlava a separação entre os sexos?

Anónimo disse...

Olá
Só agora pude chegar aqui para ouvir a PO (cá está, não dá no rádio, tem que ser no pc), mas queria só dizer que gosto muito quando a PO fala de história, principalmente portuguesa, porque sou da àrea de ciências e sei muito pouco de história, assim, desta maneira aprendo de forma mais informal.

Anónimo disse...

Olá! Tenho pena de nao ter visto o tema mais cedo! Teria perguntado à minha mãe muitas coisas! :)

Embora hoje achemos piada a muitas destas 'regras', como deixar o marido ler o jornal descansado :), infelizmente isso ainda reflecte o pensamento profundo de muitos portugueses, e muitas portuguesas, sim! Também as portuguesas fomentam este tipo de mentalidade, embora hoje o façam de forma mais subtil! Acredito que hoje ainda se exija mais da mulher do que do homem em termos de comportamento 'social'! Mas há que deixar passar o tempo! É verdade que a nossa 'liberdade' ainda é jovem...

Aproveitava para deixar uma pergunta para a autora. Nunca tinha ouvido falar da obrigatoriedade da filiação à mocidade portuguesa feminina. Os meus pais nasceram e cresceram no interior, em aldeias pequenitas, mas foram à escola por volta das décadas de 40, 50! E nunca os ouvi falar sequer da mocidade! Esta obrigatoriedade não era exigida nos meios mais pequenos? Nas aldeias perdidas no Portugal profundo??

Beijinhos para todos.

Campina disse...

Deve ser então por isso que a taxa de natalidade anda a baixar... As mulheres preferem lutar para conseguir vencer na carreira, do que ter filhos, que mais cedo ou mais tarde, as vão fazer perder pontos na carreira!!

A verdade é que o machismo contínua por aí, visto que uma mulher para chegar a um lugar tipicamente ocupado por homens, ou tem de ter um óptimo factor C, que é como quem diz uma "valente cunha" ou tem que trabalhar o triplo!!

Anónimo disse...

Boa-noite!
Como é? Tudo fixe convosco? Espero que sim. Nós vamos indo. Mas falemos de coisas bem melhores. A Laurinda faz vestidos por medida. O rapaz estuda nos computadores; dizem que é um emprego com saída.

Para começar quero apresentar um pedido de desculpas, por não estar a ouvir o programa (qdo sair daqui já o poderei ouvir, no carro) e por causa disso, provavelmente a minha epístola passará totalmente ao lado do que estarão a falar no programa, mas já é costume... Outro pedido de desculpas, por provavelmente ir partir a loiça toda.

Alguém que me explique qual é o mal de ensinar valores a uma criança. De lhe querer mostrar o que está correcto do que está errado (além de levantar a tampa da sanita antes de urinar). É que se existiam coisas más nestes movimentos (carácter acentuadamente político, desde "mas sempre longe da intervenção política deixada aos homens" até aos "conselhos sobre livros fundamentais e outros proibidos aos olhos destas jovens") não consigo perceber o mal que possa haver em "boa mãe,(...)boa cidadã sempre pronta a contribuir para o Bem comum", "lições de lavores e trabalhos manuais ou outros afazeres da vida doméstica", "aprendemos as virtudes dos grandes heróis nacionais como D. Filipa de Lencastre ou o Santo Condestável." Qual é o mal de ensinar as pessoas, desde crianças, a terem alguns conhecimentos? Eu tive Trabalhos Manuais no 5º e 6º ano, Trabalhos Oficinais do 7º ao 8º. Aprendi coisas de Olaria, Têxteis, Madeiras, Electrotecnia, trabalhos em papel,... Não acho que isso tivesse notações políticas. Porque raio é que agora qq coisa que seja referente ao período da ditadura terá sempre de ser visto como "ditadura"? Por essa lógica, deveriam acabar com as disciplinas de trabalhos manuais, pois afinal, ensinam-nos a fazer coisas com fios de lã, ou com madeira, martelo e pregos! Sim, e realmente é preferível não conhecer minimamente nada da história de Portugal, nem de nenhuma das personagens. Depois, qdo aparecem aquelas reportagens na televisão
"-Sabe que feriado se comemora hoje, dia 1 de Dezembro?
- Começam as rebaixas no Corte Inglés." ou
"-Sabe que feriado se comemora hoje, dia 5 de Outubro?
- Sim, claro. Foi o dia em que os militares fizeram uma revolução que acabou com o Salazar e mataram o rei."

Enfim... agora que já perdi algum tempo, vou-me; pode ser que ainda apanhe o resto do programa no rádio.

Ó Alvim, é pá, não é por nada, mas já que ai na Antena 3 começam a repetir programas depois das 2 da manhã, porque razão não repetem a Prova Oral? Eu até era daqueles que costumava ouvir o programa dantes, de madrugada. Ajudaste-me muitas vezes a perder o sono durante as minhas viagens pela A8. Ora aqui está mais um conceito de serviço público (combater o sono nos automobilistas ; ) )

CIAO!

Ass: Samicas Alguém

Anónimo disse...

Boa Noite a todos
Quero só fazer uma pergunta rapida à vossa convidada:
Conhece Beatriz Ferreira, 1ªreporter fotografica de portugal e 1ªmulher a usar calças durante o estado novo?
Abraços e beijos a todos

Anónimo disse...

Boa Noite a todos
Quero só fazer uma pergunta rapida à vossa convidada:
Conhece Beatriz Ferreira, 1ªreporter fotografica de portugal e 1ªmulher a usar calças durante o estado novo?
Abraços e beijos a todos
POR FAVOR NÃO ACABEM O PROGRAMA SEM PERGUNTAR!!!!!!!!!

Anónimo disse...

POR FAVOR POR FAVOR POR FAVOR POR FAVOR....NÃO QUERO QUE SEJA ESQUECIDA.....

Anónimo disse...

Uma mulher e pêras

Binas disse...

Oi alvim!
Só pa dizer que o técnico do cacário é o maior exemplo da mocidade portuguesa masculina. Quanto à feminina deve ser a Luisa Castelo Branco.

Binas disse...

A outra senhora é a Luisa Castelo Branco pá!

Salazar o rap(p)ador disse...

A "Outra Senhora", era como as pessoas designavam o Regime sem se comprometerem

.g disse...

A expressão «o tempo da outra senhora» é hoje, realmente, muitas vezes utilizada quando nos referimos ao regime do Estado Novo em que havia censura e um regime de partido único. No entanto, a «outra senhora» não significa nem «censura» nem «ditadura», mas, sim, mesmo uma outra senhora.
Explicando, esta expressão é anterior ao 25 de Abril e tem origem nas relações domésticas. A Senhora era a dona da casa e aí punha e dispunha. Era ela que ditava as leis da organização da casa, a serem cumpridas pela criadagem. Quando a senhora da casa morria, havia uma nova senhora (a filha, a nora, a nova mulher do viúvo que entretanto casaria), a ditar a organização da casa, e essa organização sofria alguma alteração; a forma de gerir era, naturalmente, diferente. E surge então a expressão «o tempo da outra senhora», distinto do actual.
Quando muda o regime político, mudam as leis, muda a forma de organização do país e, por analogia, começa, então, a falar-se do tempo da «outra senhora» quando se pretende referir situações relativas a essa época anterior, situações essas que agora não existem ou foram alteradas.

[retirado daqui http://ciberduvidas.sapo.pt/pergunta.php?id=14876]