segunda-feira, abril 16, 2007

A TLEBS



TLEBS quer dizer Terminologia Linguística para os Ensinos Básico e Secundário e a proposta da sua renovação tem causado alguma polémica. Para dar um «cheirinho» da saga, a quem ande arredado dela, segue a transcrição de um artigo do Público de finais do ano passado, assinado por Bárbara Wong:

«A nova terminologia (TLEBS) procura actualizar os termos utilizados na gramática portuguesa. Desenvolvida por um grupo de linguistas das principais universidades do país, foi aprovada em 2004 e tenta uniformizar os termos gramaticais. Como explica José Esteves Rei, da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, envolvido na primeira versão da TLEBS, o grande objectivo é fazer com que "os alunos usem todos a mesma terminologia ao abordar a língua".

A TLEBS também actualiza a gramática, que evoluiu desde 1967, e valoriza-a, explica Paulo Feytor Pinto, presidente da Associação de Professores de Português (APP). "O lado bom é que a introdução da TLEBS tem permitido que os professores invistam na gramática, que não tem sido muito ensinada", acrescenta o presidente da Associação Portuguesa de Linguística (APL), João Costa.

A TLEBS já é aplicada no ensino secundário e foi avaliada no último exame nacional de 12.º ano. Só o ano passado chegou ao básico através de uma generalização decidida pelo Ministério da Educação (ME), que já veio dizer que está disponível para repensar a experiência mais cedo do que o previsto. O PÚBLICO tentou confirmar esta informação, mas não obteve resposta.

Para os mais críticos, estas novas regras vão afastar os alunos do Português. Jorge Morais Barbosa, professor da Universidade de Coimbra, diz que os alunos "têm coisas mais importantes para aprender", como "ler e escrever bem e sem erros". "Devem deixar-se essas preciosidades para quem quer estudar linguística na universidade", opina. Também Álvaro Gomes, linguista da Universidade do Minho e autor de uma gramática onde introduz a TLEBS, prevê que os alunos tenham "graves problemas de aprendizagem".

Não é um programa
No início desta semana, José Saramago, Graça Moura, Prado Coelho, Maria Alzira Seixo e Jorge Morais Barbosa, entre outros, subscreveram um abaixo-assinado a pedir a suspensão imediata da aplicação da terminologia. A APL já fez chegar ao ministério uma carta, mas no sentido contrário.

Se a TLEBS for suspensa vai legitimar-se que fique tudo como está, justifica João Costa. "A TLEBS foi feita porque os programas não seguiam a nomenclatura que estava em vigor." João Costa admite que a terminologia "esteja a causar alguns problemas, mas é bom que os professores tenham que estudar e investir na gramática".

Os presidentes da APP e da APL dizem que "a TLEBS é uma terminologia e não um programa", ou seja, deve ser adequado a cada uma das idades. "A imagem que se está a passar é que os estudantes vão decorar e debitar palavras e não é isso que vai acontecer", assegura João Costa.

"A TLEBS não pode ser entendida como um receituário de termos para professores e alunos memorizarem e papaguearem nas aulas. Cabe aos professores o trabalho da transposição didáctica dos termos a usar em cada ciclo de ensino, no respeito dos programas em vigor", escreve no PÚBLICO Filomena Viegas, professora de Língua Portuguesa, responsável no ME pelo acompanhamento em linha da TLEBS.

Há cerca de um ano, o ME enviou orientações às editoras para incluir a TLEBS nos manuais. Uma decisão contestada pela APP, que alega que esta ainda está em fase de experimentação. "A função da editora é respeitar as regras definidas pela tutela. Se a TLEBS for suspensa, é isso que faremos", declara Paulo Gonçalves, da Porto Editora.

ALGUNS EXEMPLOS DO QUE MUDA

"O João ficou em segundo lugar"
"segundo" era um numeral ordinal; passa a ser um adjectivo numeral, porque qualifica em que posição o João ficou.

"Vem para aqui"
"aqui" era um advérbio de lugar; agora é um advérbio adjunto de lugar

"A cobra é bonita"
"cobra" era um substantivo comum, feminino do singular; muda para nome comum, concreto, contável, não humano, animado, epiceno do singular. Era errado chamar-lhe "feminino" porque há cobras macho e fêmeas, por isso é "epiceno"

"Ele não viu nenhum homem"
"nenhum" era um determinante indefinido; agora é um quantificador universal, porque exprime um todo.»

Da Nomenclatura Gramatical à nova terminologia

1927 Num congresso de professores do ensino secundário fala-se, pela primeira vez, numa terminologia gramatical uniformizada.

1967 É finalmente criada a Nomenclatura Gramatical Portuguesa. Depois de 1974 surgem novas correntes gramaticais nas universidades que acabam por chegar ao ensino básico e secundário. Há professores que mantêm a terminologia de 1967, mas outros adoptam os novos termos.

1993 A partir deste ano e até 1997 professores e investigadores procuram sensibilizar o Ministério da Educação para a necessidade de haver uma terminologia uniforme. Com a reforma do ensino básico e secundário, a tutela propõe-se a fazê-lo.

1997 São criados uma dezena de grupos de trabalho, de que fazem parte docentes do básico e do secundário que, sob a orientação de professores do ensino superior, discutem a nova terminologia. Mais tarde é criado um novo grupo, constituído por apenas 17 linguistas, que conclui o trabalho em Dezembro de 2002.

2004 Só a 24 de Dezembro, durante o Governo de Santana Lopes, é publicada a Terminologia Linguística para o Ensino Básico e Secundário (TLEBS) em Diário da República.

2005 A 8 de Novembro, a ministra Maria de Lurdes Rodrigues define que ainda nesse ano lectivo (2005/2006) a TLEBS seria adoptada no ensino básico como experiência pedagógica em algumas escolas do país. A experiência é generalizada "ao universo das escolas do ensino básico" um ano depois.

2008 No final do ano lectivo de 2007/2008 termina o período de três anos consecutivos de experiência pedagógica e a TLEBS entrará em vigor.»

Uma das vozes mais activas contra a nova TLBS, foi a de Francisco José Viegas, a partir do seu blogue. Aqui, a selecção de alguns textos dedicados ao assunto, com links para outros.

Poderão participar na conversa todos os que de alguma forma se interessem pela língua que falamos e escrevemos, especialmente encarregados de educação e professores. O telefone é o 800 25 33 33 e há também, como sempre, a caixa de comentários deste blogue. A partir das 19, com Fernando Alvim.

Amanhã, Helena Sacadura Cabral, virá explicar-nos porque é que as mulheres gostam de homens.

16 comentários:

7ubal disse...

Boas!
Tenho uma dúvida: se aprendermos todos a falar e escrever português "à la TLEBS", já podemos ser engenheiros como o outro?
É que se não, também não serve para nada...

Anónimo disse...

Olá a todos!!!!

Eu queria deixar uma notazinha...

Antes de inventarem novas terminologias gramaticais e outras tantas coisas... Dediquem mas é mais tempo a ensinar as pessoas (professores e alunos) a ler e escrever correctamente, para depois não ouvirmos barbaridades como "tóxico independente".

E não digam que a culpa é dos alunos que não querem aprender, porque a maioria dos professores está-se bem nas tintas para a aprendizagem dos seus alunos, pensando só no seu ordenado que não aumenta...

Anónimo disse...

Era tudo bem mais facil ! Só querem complicar.

Já viram o que temos de chamar agora à pobre cobra ?!?

"nome comum, concreto, contável, não humano, animado, epiceno do singular"

Para que isto tudo? Isto é necessário para o nosso dia a dia?

Será que em vez de dizermos : "Cuidado com a cobra" vamos ter de passar a dizer : "Cuidado com o nome comum, concreto , contável, não humano, animado, epiceno do singular"... antes de acabarmos a frase já estava a outro a pisa-la :p

abraços.

Anónimo disse...

Olá

Tenho uns amigos que são professores do primeiro ciclo e há tempos surgiu uma dúvida quanto à divisão de sílabas, por exemplo, a palavra CARRO pode ser dividida de duas formas:

Car-ro que é um exemplo de translineação;

Ca-rro que é um exemplo de divisão silábica quando se ensina ao primeiro ano de escolaridade.

Estou correcta?

Bom programa **

Aksal disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
" il garfield " disse...

Que tal mais um referendo ???? era mesmo o que o país estava a precisar pode ser que o p.m se demita se estas reformas á nossa gramática não forem aprovadas.. entretanto parabéns à prova oral que ouço regularamente mas que por uma razão ou outra nunca liguei... ficam aqui algumas sugestões de novas palavras, que já tenho meu blog(http://confrariadoretalho.blogspot.com) "léxico dos nossos dias" "descoisou-se" uma palavra que serve para todas a coisas, "seguição" uma palavra que vem no seguimento de outras abraço

Aksal disse...

E o ensino da lingua Inglesa na primária? Isso n deve ajudar pois não?

Anónimo disse...

tenho uma dúvida que têm a ver com língua portuguesa mas acho que não tem muito a ver com o assunto... Passo a explicar uma professora minha de linguística dizia uma altura que por exemplo: "tinha pagado", "tinha matado", "tinha gastado" era correcto tal como dizer "tinha pago", "tinha morto" ou "tinha gasto... Explique-me senhora professora por favor... Ass: CabeCeiras

Anónimo disse...

Eu gosto é de ouvir as pessoas na televisão a "comer plurais"...
"O automóveis", "o verbos", etc.

Anónimo disse...

Uma escola é um lugar de onde se vê o mundo...
Penso que numa certa fase da nossa história o erro passou a ser desvalorizado; esta nossa forma bem portuguesa de estar no mundo acaba por ficar registada na língua e no uso que dela fazemos.
Trabalho no ensino e julgo que a missão objectiva da escola é ensinar a ler e a escrever, em todos os níveis de complexidade que esta tarefa representa. Educar também é isto.

M

Anónimo disse...

Eu raramente dou erros de ortografia.

O meu pai era carpinteiro.

A minha professora primária um dia encomendou-lhe um objecto de madeira longo e delgado.

O meu pai é meu amigo. Mesmo lá longe aquecia-me as mãos na sala de aula.

Anónimo disse...

Alvim so agora cheguei ao computador, ora pergunta aí se faz favor. eu tou no 12º e sempre aprendi de uma maneira (a velha terminologia) e agora no ultimo ano do meu curso vêm me dizer que a terminologia correcta nao era nada daquilo que tinha estudado, mas sim uma coisa muito diferente que tinha estudado até então. Como se explica isto?
abraço Alvim

Anónimo disse...

acrescento, esta terminologia nao deveria começar do 1º ano? Esta mudança repentina não tem lógica para quem em 11 anos sempre e sempre estudou de uma só maneira.

Anónimo disse...

Se os "guardiões da língua" são tão pesados a olhar por ela imagino como vão fazer acerca dos novos termos que andam à volta das novas tecnologias... vamos acabar todos a falar Inglês ou ir buscar termos melhores dos Espanhóis ou Brasileiros que não precisam de reunir a tonelagem da nobreza intelectual numa sala no dia X para adiarem para o ano Y e ficarem a pedir por favor aos Brasileiros para atribuir termos... acerca disso pq mudamos tanto? só no século passado foram três acordos Ortográficos! Temos um escritor Português que ainda escreve com um do séc. XIX... Em termo de comparação o último acordo ortográfico Inglês foi realizado em 1700 e tal?... Atenção que os termos agora estão a mudar à "velocidade da luz" e as nossas elites intelectuais estão envelhecidas e não percebem nada do que se passa na Internet e são sobranceiros perante sua importância... preferem o cheiro (da celulose) dum livro novo...

Vegana da Serra disse...

Se a antiga gramática já me dava a volta à cabeça, então esta, com estes termos indecifráveis, meu Deus, havia de ser bonito... ainda bem que já não ando na escola!

Anónimo disse...

Ontem não ouvi o programa mas gostaria de deixar aqui uma resposta ao anónimo que assina CabeCeiras.

Caro CabeCeiras,

não deve ter sido isso que a sua professora de Linguística lhe disse (a capacidade que esta malta tem de deturpar tudo...).
O que certamente lhe foi ensinado foi o seguinte:

quando os verbos têm particípio passado duplo usa-se, geralmente, a forma regular (em -ado ou -ido)com os auxiliares ter e haver e a forma irregular com os auxiliares ser e estar. (Claro que há excepções!)

O caso de morto e matado é diferente...

Matado é particípio passado de matar.
Morto é particípio passado de morrer mas, com a evolução da língua, e por analogia com o verbo matar, passou também a ser usado como particípio passado deste verbo.

Cumprimentos.