Não há memória de uma série da Televisão Portuguesa que ainda hoje, passados todos estes anos, continue a influenciar gerações inteiras e a minha em particular. Naquele tempo (quando ainda havia candeeiros a petróleo e as vias rápidas eram em paralelo - é bom exagerar sempre neste tipo depormenores) o Duarte e Companhia juntava à mesma mesa, amigos e desavindos, étnias várias, Crentes e Ortodoxos, Queijo e Marmelada, Maçã e Goiaba, Alguém tem 5 euros em trocos, por favor? dizia eu, o país parava, já na altura muito na via da cintura interna, no garrafão da Ponte 25 de Abril e merecidamente na segunda circular e durante aqueles 50 minutos (há aí alguém que me possa dizer quanto tempo tinha cada episódio?) não se pensava noutra coisa. Como pode haver criatura tão malévola e ruim como Lucifer? Que fará Átila quando descobrir que o seu imensurável poder pode estar ameaçado? Quem poderá suster a força intempestiva dos desiquilíbrios emocionais de Rocha?
A verdade é esta, mais do que a violência física que a pontuava ao melhor estilo Jackie Chan, era a violência psicológica e os métodos que usavam para a exercer que distinguiam a série. Quem não se recorda do episódio da tortura do aquecedor, em que o refém de então é impiedosamente encarcerado numa sala de dimensões exíguas, rodeado de aquecedores, que parcimoniosamente eram ligados até atingirem o nível máximo para seu absoluto desespero. Se para o espectador o sofrimento já era tortuoso, as coisas agravam-se substancialmente para a vítima, ainda neste cena, quando no meio deste intenso calor lhe é colado à frente, em cima da sua mesa, um copo de água bem fresquinha, que sabe não poder consumir por se encontrar atado a uma cadeira de forma severa e irrascível.
A série Duarte e Companhia revolucionou também, porque mostrou o lado humano e não raras vezes altruísta de quem pratica o mal. São constantes as analogias ao amor mesmo em climas de tensão, são evidentes as fragilidades de alguns quando confrontados com o lado mais sensível de um mundo que sabemos ser nosso.
Duarte e Companhia colocou questões mesmo às mentes mais cépticas: Que haverá depois da ínfima linha do horizonte? Poderá a violência ser mais forte do que o amor? Poderá o mal vencer o bem? O consumo exagerado de coentros não será subversivo? Quem terá chegado a este parágrafo terá mais alguma coisa que fazer na vida?
Ora bem, é hoje, não há dúvidas, a Prova Oral associa-se ao lançamento doDvd da mítica série Duarte e Companhia. Em estúdio estarão três das mais célebres personagens: O indispensável Duarte (Rui Mendes), o malévolo Lucifer (Guilherme Filipe) e a não menos lendária Joaninha (Paula Mora). Eis a oportunidade para lhes fazermos todas aquelas perguntas que há tanto queríamos e conversar sobre uma das séries que mais marcou a Televisão Portuguesa. Podem igualmente falar sobre outras séries mas falem, falem, falem. Hoje, a partir das 19, na Prova oral. 800 2533 33.
Comissão Executiva Prova Oral
alvim (www.fernandoalvim.com)"
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